segunda-feira, 30 de abril de 2018

O campo das “Abóboras”

Há muitos e muitos anos, quando ainda jovem, eu jogava pelos times do interior, os chamados “times de roça” e por lá, às vezes acontecia coisas muito interessantes. Nós, apesar de time de roça tínhamos uma equipe muito boa. Nas redondezas, não havia time que ganhasse de nós. Nosso time era composto por bons jogadores, mas tinha dois, que merecia todo destaque: O Ambrozinho, muito magrinho e muito baixinho(miúdo como se dizia lá), era a habilidade em pessoa, dominava uma bola como ninguém. A bola parecia colar em seu peito, tinha uma visão de jogo e punha a bola onde queria como se a jogasse com as próprias mãos. E o outro, era o Dorval, que não tinha tanta habilidade como o Ambrozinho, mas a disposição, a garra e a vontade, superava a falta de habilidade. Ele parecia estar em toda parte do campo!... Cobrava tiro de meta, cobrava as faltas, escanteios, laterais. Era o verdadeiro deixa que, eu chuto. Corria para um lado, corria para outro, sempre pedindo a bola. O prazer dele era estar sempre com a bola nos pés e jogava com alegria, perdendo ou ganhando estava sempre feliz. O único momento triste para ele era quando o jogo acabava.

Pois bem, certa vez fomos jogar em um lugar, que havia uma roça de milho em volta do campo e como os agricultores costumavam plantar outros produtos junto ao milho, lá também havia feijão, batata doce, melancia e abóboras.
Começa o jogo, bola pra lá, bola pra cá... A torcida delirando com os chutões pra cima – quanto mais alto a bola fosse mais a torcida gritava: - Chuta pra cima compadre!... Quem gosta de chão é cobra e num desses chutões, o zagueiro do time deles, mandou a bola lá para o milharal. Antes que ela chegasse lá, o Dorval já estava esperando por ela. E no afobamento que lhe era peculiar, ele em vez de pegar a bola, pegou uma abóbora e mandou no peito do Ambrozinho, que ficou desacordado por vários minutos e sem voz por vários dias. Para desespero do Dorval, a partida foi interrompida.

Quanto ao Ambrozinho, quando ia comer na casa de alguém e que um dos pratos era abóbora, ele pedia desculpas e dizia: - Esse preto não dá pra engolir!...

Nessas minhas andanças pelos campos de roça, já vi muita coisa esquisita. Já vi um jogador furar a bola ao dominá-la pressionando-a contra o chão e ela estourar. Já vi um, jogando descalço, errar a bola e acertar o barranco e cair quase meio metro de terra. Já vi um campo, que havia uma árvore de cedro quase dentro dele e que seus galhos atrapalhavam a cobrança de escanteio, mas que dava uma sombra maravilhosa.

Então, já vi tudo isso, mas nunca tinha visto alguém dominar a bola nas costas, como fez o Giovanni. Pobre futebol brasileiro....

Por Toninho Bolado

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