segunda-feira, 20 de março de 2017

Como nasceu um torcedor! (Por Toninho Bolado)

O meu pai era fazendeiro e consequentemente eu passei a infância e parte da adolescência morando na fazenda, pois quando eu tinha doze anos, nós mudamos para a cidade. Naquela época – inicio dos anos cinquenta - não havia televisão, claro! Movido à eletricidade de uma usina própria, que mal dava para iluminar as noites, o único eletro doméstico existente ali, era um radiozinho velho que servia para meu pai ouvir as noticias todas as noites – no Repórter Esso – e também para que ele ouvisse os jogos do seu Flamengo, nas tardes de domingo.

Eu era muito pequeno e não conseguia entender como o meu pai podia gostar tanto daquela gritaria no rádio e eu podia notar o semblante dele mudar constantemente, às vezes ficava alegre, às vezes triste e naqueles tempos, criança não podia fazer perguntas para os mais velhos e eu na minha total ignorância, ficava morrendo de curiosidade, mas nada podia fazer, pois se eu perguntasse alguma coisa na certa levaria uma bronca – “pito” como dizia naquela época.

Como meus avós e meus tios quase todos moravam no Arraial próximo à Fazenda, eu sempre ia lá e gostava muito de ir à casa do meu tio que tinha uma farmácia, ( Pharmácia ). Para forrar as prateleiras ele usava jornais e todos com fotos do time do Flamengo, porque o meu tio era flamenguista doente. Eu via aquelas fotos em preto e branco e não conseguia associar que ali estava o Dequinha, o Dida, o Pavão que meu pai tanto admirava. Até que um dia o meu tio conseguiu em uma revista, uma foto colorida e ai tudo mudou para mim.

Havia lá na fazenda uma árvore por nome de olho de saci que dava uma semente com as cores preto e vermelha e passei a admirar aquela planta como nunca e admirar as joaninhas e até as cobras corais. Daquela data em diante, meio sem saber, passei a ser Flamengo. E depois, mudamos para a cidade e flamenguista já consciente, minha brincadeira predileta eram os jogos de botões.
Acho que é por isso que às vezes erro tanto nas minhas analises, pois meu ingresso na vida futebolística foi de uma maneira muito provinciana.


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